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Ancestralidade Indígena é uma realidade também nas cidades



Quando se fala sobre reconhecimento de parentes em contexto urbano, uma parte das pessoas exige provas, fazem contestações e hipóteses maldosas sobre disputa de espaços e supostos recursos, quando a nossa ideia central não está contemplada pela disputa, nem pela concorrência.


O problema de trabalhar tão somente no campo das hipóteses é que isso gera discussões desgastantes e pouco a nada úteis, confrontos entre semelhantes e especulações que não se apoiam na realidade material e simbólica das cidades.


A realidade conjuntural em que vivemos é em si a prova da nossa hereditariedade, com evidências históricas e genéticas que se traduzem em nossos corpos (com ou sem a marcação de fenótipos amplamente publicizados), histórias e espiritualidades diversas - ainda que essas últimas, em última instância, sejam metafísicas e individuais, não deixam de possuir características oriundas do social e cultural, inclusive no nosso caso, com matriz indígena.


Não estamos situades entre japoneses de Okinawa, vietnamitas, filipinos ou indonésios. Então de onde vieram as nossas características?


Qual linhagem presente no Brasil nos caberia, se não a indígena?


Não existe a menor intenção de tomar espaços aldeados já antes estabelecidos, nem invadir como se fossem nossos desde o início.


Parentes aldeados, de fato, não nos devem nada e a recíproca é verdadeira. Porém, reconhecemos a legitimidade de suas lutas e enxergamos em seu esforço de preservação cultural e étnica possibilidades de reconexão entre indígenas em diáspora.


O reconhecimento por uma comunidade étnica específica não é uma exigência para a identidade indígena, mas para utilizar pública e amplamente o nome de um povo é necessário, conexão, ter seu reconhecimento consagrado pelo povo em questão.


A realidade em toda a América Latina é a dos nossos corpos, rostos e familiares, ainda que apagados e espoliados pelo projeto colonial. Por isso, a necessidade da retomada ancestral.


A realidade das cidades já é e é visceral. Não depende de juízos de valor! Devemos colocá-la em pauta em todos os espaços e comunidades interessadas.


Nascemos como nascemos: brancos demais para sermos negros e escuros demais para sermos brancos.


É importante dizer que o papel de retomada e reencontro com a sua cultura originária cabe a cada indígena autodeclarade, sendo de responsabilidade individual mesmo dentro de um coletivo e cada um realiza este caminho de retorno a um futuro ancestral no seu próprio ritmo e nas suas próprias possibilidades.


Então, como devemos nos chamar, parente?

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