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Diacuí foi a primeira indígena a se casar com um homem branco?

Recentemente saiu uma matéria sobre a “primeira indígena" a ser forçada a se casar com um branco no Brasil, Diacuí, da etnia Kalapalo. É uma história que aconteceu há 70 anos, e teve uma ampla cobertura da imprensa.


É uma das narrativas revisitadas na exposição “Xingu: Contatos”, em cartaz em São Paulo, no Instituto Moreira Salles. Acontece que, Diacuí não foi a primeira indígena forçada a se casar com um homem branco. Pode ter sido, sim, a primeira a ter uma atenção da grande mídia, mas não a primeira forçada a se casar, e vou te falar o porquê.




Esta história não é diferente do processo que aconteceu com inúmeras famílias indígenas no Brasil inteiro, e é por isso que Diacuí não foi a primeira indígena a sofrer essa violência.


Embora os matrimônios e as uniões, entre indígenas e portugueses, fossem um fenômeno antigo no Brasil, é importante notar que, a partir das reformas pombalinas os casamentos mistos se transformaram em uma política oficial do governo colonial, adquirindo novo significado político e social.




A meta era literalmente destruir os indígenas, como grupos étnicos e políticos diferenciados, dentro do contexto colonial. Ou seja, tratava-se de absorvê-los à população colonial e à sociedade envolvente, por meio da miscigenação biológica, e da homogeneização linguística e cultural.


O artigo 88 do Diretório Pombalino de 1755, século XVIII, deixa claro o objetivo assimilacionista ao incentivar à presença de não índios nas aldeias, os casamentos interétnicos, e a extirpação dos costumes indígenas, de maneira a transformar esses grupos em vassalos do rei de Portugal, sem distinção em relação aos demais.








Em 1758, o Diretório dos Índios foi estendido ao resto do Brasil. Era uma forma de dar continuidade e legitimação dos territórios lusos e sua eficaz ocupação, como também exigir a catequização e a união cristã monogâmica, de subalternizar a mulher indígena.


Nessa época acreditava-se que era preciso acabar com o sangue dos “selvagens”, pois assim chegariam mais perto de uma raça dita “civilizada” com doses do sangue branco. Para quem quer saber um pouco mais, você pode encontrar este documento na Biblioteca Nacional.


Fontes:

  • Casamentos indígenas, casamentos mistos e política na américa portuguesa: amizade, negociação, capitulação e assimilação social. Vânia maria losada moreira. universidade federal rural do rio de janeiro, brasil.

  • O Diretório dos Índios como projeto de “civilização” portuguesa para os sertões pernambucanos. Elba Monique Chagas da Cunha. Revista Latino-Americana de História. Vol. 3, no. 12 – Dezembro de 2014

  • Diacuí: a fotorreportagem como projeto etnocida1 . Helouise Costa . Docente do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

  • https://revistamarieclaire.globo.com/retratos/noticia/2023/02/estupro-e-uniao-forcada-o-caso-de-diacui-primeira-indigena-a-se-casar-com-um-branco-no-brasil.ghtml em 01/03/2023

  • https://lisa.fflch.usp.br/taxonomy/term/1231 . 01/03/2023

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