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Guerreiras da Ancestralidade na Força do Caminhar!

Eliane Potiguara nos lembra: são sagradas, as mulheres indígenas.


Foi assim que a primeira mulher indígena a publicar um livro no Brasil abriu a recente publicação: Álbum Biográfico Guerreiras da Ancestralidade. Nele, consta a biografia e textos de mais de 70 escritoras indígenas.



Capa do Álbum Biográfico Guerreiras da Ancestralidade, lançado pelo Coletivo de escritoras Mulherio das Letras Indígenas.


O álbum é resultado da união de indígenas mulheres escritoras. Juntas, compomos o Mulherio das Letras Indígenas.


O coletivo de escritoras nasceu após o chamado feito por Eva Potiguara. Ao conversar com a autora premiada Maria Valéria Rezende, Eva aceitou o desafio.


Assim, o Mulherio nasce com o objetivo de romper as barreiras que impedem nossas vozes de ecoar: o racismo e a misoginia, herança patriarcal que está presente até mesmo dentro das nossas casas.




literatura indígena e a wyka kwara

A nossa taba Wyka Kwara, abriga as mais diversas pessoas, todas com algo em comum: estamos atravessadas/os/es pelo etnocídio e pelas marcas da urbanidade. Nossas memórias foram silenciadas, nosso corpo miscigenado e nosso pertencimento distanciado.


Agora, retomamos na Força do Caminhar. Juntas/os/es podemos construir o que os anos de apagamento nos negou.


Por esse motivo é tão importante falar. E muitas de nós falamos através das nossas letras. Letras que hoje são expressas através do alfabeto português. A língua que nos foi imposta é transfigurada com sentidos indígenas de ser, de retornar e de lembrar.


A existência do Mulherio das Letras Indígenas é uma afirmação de que a literatura indígena escrita por

mulheres é tão valiosa quanto qualquer outra.


Essas dezenas de escritoras indígenas tiveram suas palavras impressas no papel, guardadas nesse Álbum Biográfico. A grande maioria nunca teve a oportunidade de ter suas palavras publicadas.


A verdade é que nos fazem acreditar que somos menores. Que nossa literatura não tem estilo ou qualidade. Um absurdo sem tamanho. Logo nós, herdeiras de povos contadores de histórias. Povos que sobrevivem e vivem através das palavras e das escritas desenhadas nos grafismos sagrados.


Nossas letras representam diversos contextos. Cidades, sítios, mares, rios, florestas. Somos diversas: o Mulherio das Letras Indígenas é feito de todos esses territórios.


Conheça as escritoras da Wyka Kwara que fazem parte do Mulherio das Letras Indígenas e que participaram dessa publicação!



Mariana Cambirimba



Cambirimba é peixe marinho de água doce. Mariana começou a escrever por volta dos 11 anos. Seu primeiro poema falava sobre amar e respeitar a Natureza. Nascida em Teresina - Piauí, tem ancestralidade Potyguara (tronco Tupi) e da Nação Kariri.


Cresceu sabendo sobre a sua origem, mas foi apenas quando adulta, após encarar suas ausências, que iniciou o processo de retomada da memória familiar e do seu pertencimento enquanto indígena. Carrega com orgulho o nome étnico Cambirimba, nome indígena guardado por seu avô materno.


Ao conhecer os seus parentes Potyguara na aldeia, pôde saber mais ao escutar dos mais velhos algumas histórias sobre a sua família que vivia na região de Crateús - Ceará. Hoje, tece poesia-memórias para honrar a sua família e todos os povos indígenas.


Se fortalece na luta da Wyka Kwara participando do GT de Comunicação e GT de Cultura e Artes.


Seja uma boa ancestral




“Quando você diz que apenas seus ancestrais eram,


você corta sua árvore,


mata suas raízes.




Teus parentes hoje te lembram:


seja uma boa ancestral.”



Joana Chagas



Joana é árvore: sua força e resistência continuam brotando, mesmo em meio a todas as adversidades. Indígena amazônida, nasceu nas águas escuras do Rio Oyapok - AP. Em seu território de origem, cresceu entre vivências coletivas.


Entretanto, essa felicidade foi interrompida ao ir estudar em Mairi (Belém). Mas como árvore, Joana percorreu a terra e mar até chegar ao território de sua mãe, avó e bisa: aldeia do povo Palikur.


E é com a força das suas ancestrais Palikur que Joana se tornou 'rabiscadora da palavra poética' e iniciou na mediação e contação de histórias através das Bibliotecas Comunitárias. A escrita é seu grito de dor e revolta pelos anos de apagamentos e contra o machismo que violenta as mulheres.


Atua na luta indígena com a Wyka Kwara em Mairi (Belém - Pará).


Mulher do povo de pedra


“Sou mulher do Povo de Pedra, filha da Mãe Terra, nascida das águas


que oram e banham a pele lisa do couro (des)cabeludo,


águas que trazem a maturidade cerzida na pele e nos fios de cabelos brancos que rolam ralo abaixo.


Trago a embriaguez de gestos simples e fortes que alteram a ordem(...)




Tenho apetite voraz e boca sedenta


pela palavra que veste os meus corpos de resistência


e mastiga longamente a comida, não dispensa nada.


Tenho fome canina, que só cessa quando avisto os cristais xamânicos de cura,


as pedras, as ervas, os musgos e as plantas


que mantém acesa e jorrante a grande fonte do conhecimento e Sabedoria.


Tragam-me a canoa!


Preciso subir o rio…”




Kauacy Wajãpi (Sônia)



Kauacy Wajãpi, conhecida como Sônia Miranda, nasceu em Mairi, território indígena invadido e urbanizado chamado Belém do Pará. É indígena e de origem afro, e ambos representam a sua luta e bases de existência.


Sua escrita é como sua flecha: é também com ela que guerreia na cidade, contra a colonização e o racismo. Como uma mulher indígena, Kauacy não admite que queiram calar a sua voz, a sua dor e a sua existência.


Afirma com orgulho quem é. Sabe que é filha da Mãe Natureza e parte dos seus ancestrais que não a abandonam.


Na Wyka Kwara faz a luta em Mairi (Belém - Pará) e na Tesouraria.


A dor do porquê




“(...) Sinto uma fúria dentro de mim, um choro contido.


Um grito engasgado;


Uma ferida sangrando no meu abismo de dúvidas.


Buscas e desejos.


Então um desespero se faz. Uma lágrima rola.


E no sussurro ecoa a dor, de uma linha tênue entre.


O que foi, o que é ou que será


Não te peço que me devolvas o que me roubastes.


Mas te aviso que não me impeças de ir buscar,


O que preciso.”




Bárbara Flores Borum-Kren



Bárbara pertence ao povo Borum-Kren (remanescentes Botocudos do Uaimií/ Região dos Inconfidentes – MG) e é descendente Maxacali. Desde pequena, suas letras desenham histórias sobre sua memória ancestral. Escrevia sobre Yámã, uma menina indígena que crescia livre com o seu povo.


Bárbara é mãe de três filhos e como em sua escrita, hoje vive ao lado dos seus parentes. É vice-presidente da Associação do Povo Indígena Borum-Kren. Fortalece a resistência das indígenas mulheres como membra fundadora do Movimento Plurinacional Wayrakuna - Rede ancestral artístico-filosófica de indígenas mulheres.


Escreve, dança, pesquisa e é professora. Após tanto apagamento, em coletivo ela afirma: estamos Vivos e Fortes!


Na Wyka Kwara participa do GT Bem Viver.


Memórias de Yámã: caminhos de volta para casa


“(...) Entre uma história e outra, Yáman crescia. Crescia, mas também esquecia. Até chegar um dia em, de tão longe estava de onde ela vinha, que para casa, voltar, já não sabia.


No eterno silêncio do mundo de si, foi desenvolvendo suas capacidades astutas de ler o que não foi escrito, escutar o que não foi dito e lembrar do que não foi vivido.


E aos poucos, foi percebendo, ao olhar para os lados, a presença de seres encantados, ora terrenos, ora alados. Seres que foram se juntando à sua caminhada e, por vezes, simplesmente para levar um recado.


As memórias, que de tempos em tempos reaparecem, na verdade eram também, as memórias daqueles que não vivem mais.”


Álbum Biográfico Guerreiras da Ancestralidade


Não é possível ter acesso a versão física do livro, pois a venda é proibida. Ele será distribuído para instituições públicas de todo o Brasil.



Contracapa da obra com fotos das escritoras indígenas.


Mas, você pode ler a versão digital! O e-book está em formato PDF. Para lê-lo, basta ter instalado no celular ou computador algum programa capaz de ler esse tipo de arquivo.


Basta clicar no arquivo abaixo.


Boa leitura!


Álbum Biográfico Guerreiras da Ancestralidade

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Somos Wyka Kwara: Força no Caminhar!






  • Mariana Cambirimba


    • 22 de jan.

    • 5 min para ler

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